terça-feira, 19 de agosto de 2008

Luzes da cidade

Letra e música Mario Vivas

Um beijo, um recado
Um motivo, uma coisa,
Um desencontrado
Amigo na sombra...

Ouvi você.
Dobrando a esquina,
Elogiava o show.

Um seio do lado
Incomum da camisa,
Sujeito assombrado
Lutando com a brisa,

Casal feliz.
Mas não há virtude,
Eterna como giz.

Um papo, um levante,
Um amor e sorrisos.
O clássico instante,
O ator, o estampido...

Perdi o som...
Sob as luminárias mudas
Do Leblon.


"Pop antigo, executado pelos dicentes da UniRio
no CCBB em 2000, com o canto a cargo da amiga Luciana Coló,
essa craque no samba de breque."

Na roda de samba

Música Mario Vivas
Letra Sal Oliveira

Quando,
Quando a noite vem,
De um sono tranqüilo de criança
O samba começa a despertar.
E nesse instante de magia,
A alegria
Vem como a luz do dia,

Iluminando meus sonhos
De simples compositor,
Cantarolando meus sambas
Falando de amor,

Então a roda começa
Nos braços da poesia,
Na imponência do samba
E da boêmia.

Canta, que é lindo, meu amor,
Cantar para afastar a dor,
Canta o doce de um beijo,
Cantar o calor de um desejo...


"Uma das primeiras parcerias
com minha grande amiga Sal Oliveira...
Grande Sal... Lembro da gente defendendo este samba
de refrão forte, na quadra do Salgueiro, onde era
das principais compositoras..."

Isto ou aquilo

Letra Mario Vivas
Música Zé Patitucci

O que você disser, senão, sei que não
O que você quiser, meu bem, pela primeira vez
No amor também
Fácil recado, deixa de lado, somos
Cais da beleza afora, abre a janela

É a nossa do Jobim, um jazz, aliás,
Ô Francis, é assim que faz, que bom cantar ruim
Amor, o gim
Olha da escada, desafinado como
Marcas atrás da porta, a longa cela

Isto, vem, me samba sem breque
Se faltar um verso, me segue,
Pois se aquilo for o trivial?

Peço mais um samba p'ro Chico
Troque os fatos enquanto isso
Desse amor sem norte, sem final...


"'Isto ou aquilo' marca a minha primeira parceria
como genial compositor José Carlos Patitucci...
Foi a minha primeira experiência de composição
basicamente eufônica...
Privilegiando os sons vocálicos que eu apreendo
da melodia sempre original do Patitucci.
Uma das preferidas do seu intérprete Amaury DeLima.
Gravado com os vocais do Paluamar, na Ilha do Governador, Rio."

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Sem muita pressa

Música Zé Patitucci
Letra Mario Vivas

Desafina o luar
Não estranho o que a noite faz
Onda, espuma a contar
Sem você, dois e dois somam paz

É tão longe esperar
P'ra entender um pouquinho de amor
Eu lá vou

Nessa pressa vilã
Num andor preso ao chão
Jeito manso, avanço no espaço,
No passo, no palco da boa impressão

É um caco, é um pouco,
É o fim do caminho, um bem quis

Outra coisa te deixo bem claro, não tenho país
Lá não tem beija-flor!

Eu acendo um cigarro, a mó de matar o que é bom
No meu caso, o pigarro compõe a beleza do som

No descaso, é meu jeito, levamos o acaso à canção
Muitas vezes, o dia passar
Faz um bem que nenhuma ilusão

E num desses você veio cá me contar
Esperanças num beijo de sal

Hoje o que não morreu
Quero muito feliz
Devotado ao faceiro do mar onde finco raiz.


"Última canção antes do batismo do Paluamar...
Como de hábito, no processo eufônico que me une
às melodias de Zé Patitucci, a letra foi sobreposta
à sua deliciosa melodia...
Gravado na Ilha do Governador, a quatro vozes..."

Sem vergonha, sem costume

Letra e música Mario Vivas

Sabes meu amor eu tenho que dizer
Coisa mais bonita é a verdade ver
Num capricho só, a nudez no ar
Digo do perigo do amor ficar

Quero tanta coisa de você, meu bem
Um carinho inconfundível, nada além
Um aperto, um nó, um conserto, um dó
Tão desconsertante quanto vento ao pó

Você lembra como eu soube que te quis
Vi você cantar “Luíza” como Elis
Entre nós e o mar, tinha um Redentor
Entre a gente não, nadinha de valor

Ah, já não agüento ter que te mostrar
Quero ter você e não o que falar
Sou quem diz o que / faz o meu nariz
Isto, sim querido, tanto quanto Elis

Sara, meu amor, meu peito não assume
Que só teme a dor quem ama sem costume.


"Cheguei a um ensaio do Paluamar com esta canção,
cuidadosamente composta num tom em que Amaury e Luíza
pudessem interpretá-la juntos, alternando estrofes e,
na repetição, alternando versos...
Cantamo-la no CCBB, gravamo-la na Ilha..."

Vida que segue

Letra e música Mario Vivas

Adeus aos poetas, sejam estas minhas últimas palavras
Faço testemunhas minhas mágoas
Minhas láureas e tamborins
Vejo só agora como é lindo o amanhecer de verdade
Como pode iluminar de saudade a Mocidade,
Sem repique em meu coração
Sabiá, você sabe como é boa a vida aqui
Afiança com amor que eu quis
Mas na hora do Senhor, eu vim (mas eu estou)

Estou com vocês, brigando na lida do dia
Estou com vocês, no peito uma prece de dor
Estou com vocês, ao agradecer ao Senhor
Eu vou com vocês e conosco a sabedoria, o amor

Estou com vocês, lembrando de orar pelos filhos
Estou com vocês, menino fiel à mulher
Estou com vocês, quem mora no samba tem fé
Eu vou com vocês e conosco a vida do jeito que é

Estou com vocês, um abraço nos velhos amigos
Estou com vocês, saúde, sucesso p’ros seus
Estou com vocês, e uns sambas de amor que são meus
Na lei de uma roda de samba, eu sei que é pecado dizer
Adeus...


"Samba inspirado em meu tio, emérito integrante da
famosa bateria da Mocidade Independente de Padre Miguel,
então recente e prematuramente falecido...
A canção tem duas partes bem distintas...
A segunda crescendo em entusiasmo e emoção,
complementando a primeira, mais solene...
As modulações enriquecem a melodia, que foge da cadência perfeita no fim,
chamando uma preparação para retomar o tom inicial em Ebm.

Vindima

Letra e música Mario Vivas

Hora da vindima
Na serra, no coração
A espera virou canção,
Varou madrugada

Aves de rapina,
Milagres num corpo são
Um medo feroz à mão
E a mesma coragem

Ê, ê... outro dia de estrada !!!!

Fosse um dia de solidão
Mineirão, gol do 'Rei'
Tão longe de casa, tão perto de lá

Terra peregrina,
Gurias de pés no chão
Um beatle, um Zé João
Na mesma balada

Noites iluminam
Tijolos da catedral
E amores que um beijo traz
Na veia saudade

Ê, ê... segue o dia a viagem !!!

Quantos riam da escuridão
Junto ao fogo ancestral
Eu lembrava de Belo Horizonte, da Lu, do pessoal...


"Antes de trilhar o Caminho de Santiago,
aquela comichão da peregrinação sobreveio e
me levou a trabalhar Vindima...
Naturalmente, a expectativa de apreciar
os mais diversos vinhos espanhóis
bateu no coração e no paladar,
influenciando no título da canção,
que se refere à época da colheita da uva,
e na polissemia da letra,
de busca física e espiritual...
Levou-me ao 38º festival nacional da canção em MG."

sábado, 16 de agosto de 2008

Quem sabe enganar

Letra e música Mario Vivas

Saiba que o pedaço de mar que lhe coube
É de lágrimas minhas que houve
Logo após nossa separação
Leva cada palmo desse mar de terra,
Era um amor de bandeira e brasão
Onde a mentira desfila com tal perfeição

Quem sabe enganar também diz a verdade
Pois não é fiel nem mesmo a falsidade
E quem sabe cantar, com toda a razão
Traz a velha união com o samba.


"Durante um bom tempo, este samba agregado
a 'Para Nelson Cavaquinho' foi um dos pontos altos
do repertório do Arruda de Guiné...
Samba à antiga com duas partes, sendo a segunda
tratada como um estribilho, com repetição e expressão,
preparando a passagem para a outro canção..."

Para Nelson Cavaquinho

Mario Vivas & Mariel Reis 

Todo mundo chorou em Mangueira 
Ninguém acreditou na história verdadeira 
A viola já não fala mais 
E o verso poeta não traz 
Um silêncio profundo 
É ouvido em cada esquina do mundo 
Dizendo volta, a casa ainda é sua 
Dizendo volta, a casa ainda é sua 
Dizendo volta, a casa ainda é sua 
Todo mundo chorou em Mangueira 
Todo mundo chorou em Mangueira... 

"Argumento do Mariel que desenvolvi, trabalhando a repetição dos versos, mas com a harmonia e a melodia trabalhando de modo a dar a cada verso, uma identidade, uma força, tal qual um mantra entoado em um gurufim (funeral de sambista) ..."

Olha só

Mario Vivas / Amaury DeLima / Luíza Villela

Olha só, tem uma coisa que eu quero dizer
A gente tem que enfim acontecer
Eu não ‘tô’ nem pensando no que foi,
No que passou, no que você falou de mim

Olha só, para encontrar quem vá te acompanhar
Não abra mão do acorde natural
A dissonância tem lugar no espaço, na viola,
Não no coração da gente

Olha só, fugir do assunto não vai ajudar
Não sou canção que se deixa escapar
O tom da vida não é só por aí, por aí

Olha só, a melodia tem que ter porquê
E na harmonia tem que haver você
E no compasso de nós dois é um sim
O tom maior dessa canção que a gente faz

Olha o SOL, FAzendo a lua Me RE conhecer
Eu não sou DOno do que você
Existe um irremediável SInal de liberdade
Neste LAdo da canção

Olha só, não tem jeito da gente negar
Somos dois em um mesmo lugar
Numa doce cantiga, num samba da Vila,
Olha só...


"No apartamento da Lagoa,
nos reunimos Luíza, Amaury e eu,
após longo afastamento...
Conversávamos em local apropriado,
a apertada e aconhegante cozinha,
onde Luíza preparava uma massa para o almoço...
Dado momento do papo, Luíza exclamou:
'Olha só, tem uma coisa que eu quero dizer !!!'
Pronto... Interrompi a sua fala e pedi o violão...
Pedi também que continuassem conversando eles dois,
e após alguns minutos a primeira estrofe estava fechada...
Os três prosseguimos o trabalho até concluí-lo ainda naquela tarde...
Gravamos uma bonita versão em estúdio caseiro...
Um de nossos vocais de que mais gosto..."

Natalie

Música Zé Patitucci
Letra Mario Vivas

Leda invenção do amor
A seda mais canção que o som
Escuto imagens, fugas de prisão

Cegos em matilhas vão
Se amordaçar, facínoras que são
De alguma lei, porém, algum pudor

Ouça, deixe-lhes sorrir
Dançar, cantar em língua estranha, rir
Molhar os pés num beijo teu e ir

Entende agora quantos somos eu
Porque na hora, escombros de um ateu
A tua espora forja num troféu

Ouve, deixa a multidão,
Que eu desespero atrás de um violão,
Colher o rio, um diamante, um grão

Descansa, amor, teu sono faz ruir
O homem forte. A noite faz aqui
A sua casa, acorde, Natalie.


"Sobre esta letra, Zé Patitucci cunhou uma
obra-prima harmônica e melódica que Edu Lobo assinaria
sem pestanejar...
A Natalie da história nada mais é do que um francesismo,
nome de mulher, de menina,
que evoca de forma até óbvia o nascimento, o acalanto..."

Na casa de Noca

Letra e música Mario Vivas

Vou à casa de Noca, aprender a fazer samba
Vou à casa de Noca, ouvir o papo do bamba
Vou à casa de Noca, filar num cantinho tutu à mineira
Da divina Conceição, nessa dura missão, a leal companheira

Vou ao Engenho de Dentro, mainha
Ver onde a coruja dorme
P’ra conhecer os bambas e quem mais no samba se socorre
Lembro a velha certeza: diz que a tristeza em nosso meio é morta
Se achegue mais, meu amigo, seu nome é benzido no veio da porta!

O que eu vou dizer não parece uma prece
mas tem um quê de profecia
Seja o samba da gente pelo eternamente a nossa alegria
Acendam a chama do orgulho que vem do subúrbio,
acima dos reis
Se os índios invadem a oca, na casa de Noca eu espero vocês!


"Noca da Portela, grande compositor,
padrinho do Arruda de Guiné,
gente da melhor qualidade...
Fiz este samba e o apresentei primeiro
ao seu parceiro Darcy Maravilha, no finado 'Saideira',
da Rua Uruguai, na Tijuca...
Seu Darcy me admoestou... eu jamais poderia escrever sobre o Noca
sem falar na dona Conceição, sua grande companheira.
Pois bem, subimos ao palco e eu ía martelando a idéia do verso...
Na hora de cantar o samba, mudei o verso para esta versão final,
aprovada com entusiasmo pelo amigo e grande compositor da Portela."

Não chorei

Música Luíza Villela
Letra Mario Vivas

Não chorei
E no que depender de mim
Faça deste fim
O que você quiser
Se você puder
Esqueça de mandar qualquer
Notícia do seu carnaval
Refém da quarta-feira

Quem vive no choro
Pensando em pedaços do céu
É triste apesar da beleza
Dos sambas de amor

E eu que não chorei
Também não quis ficar aqui
Para ver o fim
Insistindo em chegar
Se você olhar
Bem fundo no meu coração
Vai ver um grande amor em paz
E a paz é sempre inteira

Mas olha que jeito inocente
De andar com você
Um verso de samba tentando
Enganar o amor...


"Na sequência de 'Deu na imprensa', ainda de ressaca,
pus letra nesta riquíssima melodia de Luíza,
que Nelson Cavaquinho assinaria tranquilamente...
E depois talvez vendesse sua metade por uns tostões...
Tão bom o trabalho da minha parceira que pude prescindir
das rimas nos momentos decisivos.
Verdade seja dita, a segunda parte é dela, quando achou que a letra original
estava muito curtinha... "

Fidalguia carioca

Letra e música Mario Vivas

Puxa uma cadeira, faz esse favor / Amigo tenho em ti grande valor
Conta uma notícia do Gonçalo, grande artista / Funcionário da empresa Bom Pastor
Soube que o coitado estava bêbado e foi preso / Acompanhado pelo amigo trocador

Guarde a cerimônia para se casar / Aqui bem sabes é boca de bar
Garçom outra cerveja, um tira-gosto e um encosto / Para o meu amigo não se incomodar
Quem sabe um cavaco incipiente aqui no grêmio portelense / Faz a turma se animar

Vai dar saudade das histórias de outros carnavais / Amenidades por meu bom e velho pai
Que mal se empolga e vem contar de novo / Que o futebol vistoso do ‘Doutor’ jamais
Mereceria um final maledicente / Então reflete que o enfado atualmente
Requer a cura do alambique aqui em frente / Em que resiste uma atendente de fechar os matinais
Querido amigo não nos deixe à revelia / Há um depósito na rua Xavier

Mande alguém buscar da preferida / Companheira e nossa amiga que sustenta-nos de pé
Meu médico recomendou-me férias / Porém nesta panacéia eu deposito a minha fé

Nunca falarão da nossa embriaguez / Pois a razão é toda do freguês
A grana está faltando e há uma greve em algum canto / Creio ser dos servidores federais
E há tempos que o fiado não remonta / Aliás, pendure a conta e não se discute mais

O português da outra esquina já se ofereceu / A abrir o bar para assistir à decisão
E prometeu que vai cobrar barato / P’ra ver Flamengo x Vasco na televisão
Então seu Jorge, pense bem discretamente / Reconsidere a sugestão do seu cliente
A gente aceita ouvir o jogo pelo rádio / Se o senhor vender fiado a cerveja de amanhã.


"Uma das minhas mais antigas e, contudo, melhores composições...
Este chôro é sempre lembrado em festivais, programas de rádio...
É a minha versão contemporânea do clássico 'Conversa de botequim',
do gênio da Vila Isabel, Noel Rosa.
Com uma letra cuidadosamente elaborada,
e uma modulação exaustivamente trabalhada em treze notas para o retorno
ao tom inicial da canção (Querido amigo, não nos deixe a revelia...),
teve duas gravações, a primeira no LuMu, na Tijuca.
Outra, a mais famosa, com Bete Sá na voz e produção de Raimundo Fagner."

Face

Letra e Música Mario Vivas

Duas manhãs do céu ao chão
Não se conhecem pelo tempo
É no corpo que esse nó desfaz
E o amor refaz, inventa, manias, cinema
Com lembrança de você

Da beleza em um amor
Você bem pode ter razão
Mas eu sou manhã
Sem um sol cristão
É a chama acesa de dentro
Que parece o que se vê

Anoiteceu de mim
E pareço com você
Barcos à maré
Braços de cidade nua

E muda o criador
Não muda a sedução da criatura
Qual de nós é o triste ator?


"O Amaury DeLima e a Luíza Villela
Num arroubo de seus talento e confiança
Sugeriram uma canção que pudessem cantar juntos...
Inspirados por uma canção do Chico,
que este divide com Bethânia.
O nosso barítono e a nossa mezzo-soprano
não imaginavam que eu já vinha trabalhando
numa canção, que seria um estudo, a priori.
Um trabalho em que haveria mais do que uma construção
harmônica simplesmente, mas que houvesse um detalhe
decisivo.
'Face' tem uma nota fá em todos os acordes,
praticamente todos dissonantes,
martelando ininterruptamente
a ansiedade dos dois personagens da canção.
Meus intérpretes estavam especialmente envolvidos nesta
gravação, realizada num modesto estúdio em Jacarepaguá."

Encanto de Maria

Música Mario Vivas
Letra Lisa de Oliveira

Maria não tem medo de trabalho
Maria todo dia acorda cedo
Maria só tem medo quando digo,
Chegue cá, roxa morena, venha aqui me dê um beijo

Maria, musa nordestina
Maria, brilho do luar
Maria, flor do meu desejo
Não me negue do seu beijo
Que eu lhe ensino a me amar

Olhos de estrela matutina
De cheiro, fruta fresca do sertão
Maria, tu não vê que desse jeito
Se acaba o meu sossego
E faz doer meu coração

Eu quero o aconchego de Maria
Seu jeito de mulher, menina-flor
Não sei mais o que faço nessa vida
Para convencer Maria a aceitar o meu amor...


"Lisa escrevera letra e música para um lindo xote...
Honrando a roxa morena ao seu Ceará...
Ao me pedir contudo para transcrevê-lo,
concluímos por apurar a música,
incluindo alguns acordes menores,
que ficaram a meu encargo...
O resultado é de encantar docemente a Maria..."

Deu na imprensa

Letra e música Mario Vivas

Deu na imprensa, sou muito mais homem do que você pensa
Dá licença, quem anda contigo não tem recompensa

‘Amor’ é uma ova, me chame do primeiro nome e usando respeito
Você continua descrente com a fama que a comunidade lhe deu por direito

Eu sei que você bem queria brincar na Mangueira gorando a Portela
Mas nem o feijão da Surica, minha tia, iguala a tua prima feita à cabidela

Deu na imprensa, sou muito mais homem do que você pensa
Dá licença, quem anda contigo não tem recompensa

A cobra não leva perigo a quem se prepara pra toda maldade
Maior sexta-feira tá aí que acredito, eu tenho pelada e você faculdade

O banco não paga seu cheque, e o carro só falta implorar gasolina
O teu inquilino não paga o que deve, e até a farmácia te põe na justiça

Deu na imprensa, sou muito mais homem do que você pensa
Dá licença, quem anda contigo não tem recompensa

Eu sei que fui homem decente quem conhece a gente não nega o ditado
Se o homem é bom a mulher se ressente de quem dê o pão que amassou o diabo

Mas faça um favor não disponha do meu telefone nem passe na rua
Mulher que despreza sujeito de honra, São Jorge lhe nega a beleza da lua.

Deu na imprensa, sou muito mais homem do que você pensa
Dá licença, quem anda contigo não tem recompensa
Você no meu time não faz diferença...
P’ra ver o seu fim eu não peço licença...


"Samba de estrutura harmônica muito simples,
formada pela tônica D e pelas quintas em 7, B7 Em7 A7 ...
Com esta estrutura, acompanham-se inúmeros refrões de sambas de enredo.
O segredo da canção é a sua letra despachada,
cheia de picardia e bom humor...
Composta numa melancólica (vá lá saber o porquê)
segunda-feira de carnaval..."

De prato vazio

Letra e música Mario Vivas e Chico Reis

Vai raiando o dia,
O amanhã se transformou,
Na esperança que, após a cuíca,
O feijão preto que a Dona Surica
Prometeu virá

Antes que um compositor
Volte a exaltar Portela.

Mas hoje o samba terminou
E a rapaziada nem me espera.


"Samba brincalhão e bem suburbano...
Normalmente tocávamos, o Arruda, na mesma faixa
de 'Tem morcego no samba', pela tonalidade similar
e muita molecagem..."

Coração brasileiro

Letra e música Mario Vivas

Salve, manhã que lumia a partilha das conchas e o meu caminhar,
Na soleira do meu caminhão, é a estrada que passa como um vendaval,
E nos dias distantes de casa o meu coração me dirá sem sofrer:
‘Vai t’imbora que a Dora e os filhos olham por você.’

Rio de mar pantaneiro, amigos, seresta e o Norte a esperar...
Apesar de tão hospitaleiro luar, amanhã quero ouvir o sertão.
Forasteiro, não toco berrante, eu toco adiante onde Deus me quiser,
Vou m’imbora de tanto que a Dora... ‘não beba, José!’

Olho p’ro tempo passando e, às vezes, maldando a minha emoção.
Entregando à saudade a vitória, será que a saudade quer mesmo vencer?
No espelho das águas do Velho Francisco eu vejo os meninos crescer,
É que Deus foi menino também como eu e você.

Eu sou José, sou Jair, sou tantos que hão de vir,
Eu sou mais um coração brasileiro.

Vencendo o barro e a serra, trazendo gente sem terra,
Nós somos o coração brasileiro.

Deixo no mar do sertão meu braço, meu violão,
Nem nessa gente o afeto se encerra.

Volto pelo mesmo chão em que o meu suor pôs a mão,
Querendo Deus, voltarei brasileiro.


"Este baião é uma das minhas mais apuradas composições...
E a que tem a versão com o arranjo mais bonito...
Cheio de nordeste, contudo de um urbano refinamento
pois pontuado com um delicado e pungente piano de concerto...
Viajei com ele por vários festivais Brasil adentro..."

City blues

Mario Vivas / Ronaldo Lima

É muito amor,
Amor de um deus grego.
Tem gente revirando o mar, o MAM, o Mengo
e o meu camiseiro,
Convertendo água em sede,
Um beijo indiscreto num caso de amor...
Lá fora, a cidade em você, eu ia adorar.


A gente ficou de se ver p’ra tomar um chopinho de praxe,
A merda é que a gente somente se esbarra pela faculdade
Com pressa de vir, com pressa de ir, tá nessa de se iludir?
Conversa que sim, confessa que em mim...

O que eu quero é me ver através dos seus olhos azuis
E empurrar minha dívida inevitável com o blues
Contra o frio da parede, conectando me à rede,
Pelo interior, pelo interior
Pelo interior, pelo seu interior

O chefe da malícia mandou me cumprimentar,
O chefe da malandragem nem se deu ao luxo,
De mandar o carro oficial lhe aguardar

E ao seu restinho de conduta...
O tato é pelo mal da cura
E a ola da torcida brasileira,
Como a nossa, pirou...


"Blues desenvolvido a partir de um argumento
e alguns versos do parceiro Ronaldo, grande guitarrista
da época da faculdade.
Aproveitei para homenagear o Donga e aquela turma da antiga..."

Chão bruto

Letra Amaury DeLima
Música Mario Vivas

Veio disposto a se dar
Sem reservas, sem medos,
Mesmo não compreendido,
Não correspondido, quis ficar
Solitário, se calou
Diante das dúvidas, incertezas, medos
Resguardou-se das dores já sofridas,
Cansou, foi embora
O amor passou por mim
Tirou minha roupa
E eu não percebi...

O amor passou por mim
Tirou minha roupa
E eu não percebi...


"Em nosso primeiro encontro,
ainda distante de nos descobrirmos amigos do peito...
Zé, Amau, Luíza e eu discutíamos a idéia de um show autoral,
haja vista os trabalhos já conhecidos de todos...
Amaury levou seu livro de poemas, editado alguns anos antes...
Folheava-o num intervalo, e me saltou aos olhos este belo
poema, de mesmo nome que a canção...
Disse que iria trabalhá-lo.
E no ensaio seguinte, em que eu não fui, adoentado,
o Zé modulou a minha melodia e harmonia para o tom
da Luizinha... Encontrou ele um tal jeito de tocá-la,
que só ele... Imitei descaradamente o seu genial arranjo,
e com parcial sucesso,
no festival nacional da canção em Alfenas, MG, 2006."

Até as estrelas

Letra e música Mario Vivas

Olhe bem, quem eu sou já vem
De um lugar na madrugada
Por favor, um porém

Olhe bem, uma dor são cem
O terror a pôr, de mágoa,
O amor refém

Sabe você, era simples dizer, me dissesse
Não deixasse p'ra última prece
Nem o espelho crê

Diz amém ao coração, inventa um pecado
P'ra pedir perdão
E seja imaculado, alado amante...
Ande que as estrelas querem se deitar

Não, à noite ao cais em triste Havana, arrais
Domando meu alívio, arde a
Parte humana, parte ainda mais,
Recordarás de mim

Louco esse desejo, ó, sensatez ingrata
No que maneja a emoção barata
Pergunte ao medo a ilusão melhor.

Ah, ah,

Louco esse desejo, ó, sensatez ingrata
No que maneja a emoção barata
Pergunte ao medo a ilusão melhor.


"Inicialmente um estudo de violão,
percebi a possibilidade de montar uma letra bem pungente
pensando no Amaury como intérprete...
A última estrofe funciona como uma coda (compassos finais)
bem clara, entoada como um singular bolero..."

Ao circo

Letra e música Mario Vivas

O circo chegou à cidade
Trazendo alegria, ilusão
A lona e o seu picadeiro
São nossa maior invenção

Usando uma folha,
Uma caixa de lápis de cor
E a imaginação

De uma cartola aparecem
Coelhos de fraque e chapéu
E o mágico ainda promete
Um mata-borrão pelo céu

Passando por trás do cometa
Que ele inventou recortando papel

E o palhaço de sorriso triste
Pede um aplauso daqueles
Que acompanham sorriso de criança

Vivo é o malabarista
Trocando a lona por céu
Por malabares, pincéis de fantasia...


"Canção parte da trilha sonora da peça
'Portinari, o eterno Candinho'. de Mauro Barros.
Compunha cena que retratava o encanto do pintor
ainda criança pelo circo...
Prêmio Dilu Mello de Teatro em 2004."

Trenzinho mineiro

Letra Mario Vivas
Música Zé Patitucci

Onde não passa o trem, não roda o pião
Onde um lugar ao vento não
Traz alegria ao meu inglês tão incerto
Aventurando a paixão
Essa mania minha,
Ser tão esperto quando moço vai passar
No espelho da canção
P’ra quem vai chegar
Eu desejo tanto a velha estação do verão

Onde não passam tempo, trem, avião
Onde eu acabo sendo são
Na travessia eu ligo de Belo Horizonte
Uma palavra é ‘você’
Não ousaria ainda um verso onde, às vezes,
Pode esse tempo virar !!!

Minas Gerais da canção, rosto de pedra,
Coração de lobo, dia após outro, escrevo p’ra você

Do trem azul que passa por lá...
Do trem azul que passa por lá...


"Sempre o Zé Patitucci, outra vez uma melodia linda,
harmonizada com um violão em diferente afinação,
com a G tensionada em A.
A música me chegou numa surrada fita K7
com um 'tchurururu' tão bonito, que aproveitei
esta idéia nos vocais do Paluamar...
A citação à Serra do Caraça e suas maravilhas naturais
foi uma pertinente 'exigência' do Zé.
Também gravada na Ilha..."

Tem morcego no samba

Mario Vivas & Chico Reis

Tem morcego no samba? Tô fora!
Guarda aquela gelada, pedida faz tempo, p’ra depois da aurora!

Aviso p’ro meu violão, ‘te segura na roda mas sem baixaria’,
Enquanto um cavaco moleque, na sua inocência inicia
A mais recente e inspirada melodia composta
Por quem não se emenda e vai tomando bola nas costas

Convoca na Em cima da hora p'ra vaga na zaga central
Um samba dolente e p’ra frente do velho Amaral,
Troçando o amigo da onça, gorando o seu vil capital,
Famoso pelas ironias no verso final.
Troçando o amigo da onça, gorando o seu vil capital,
Famoso pelas ironias no verso final.


"Certa vez (hein, Candu !!!), eu e o Chico
fomos até a casa de uma veterana baluarte do samba...
Tinhamos feito uns sambas em homenagem à escola e queríamos apresentá-los...
Combináramos antes com a dona do cafôfo,
dada a indelicadeza de chegar na casa dos 'amigos' sem avisar...
Pois bem, eu segui com meu violão em punho...
Chegamos...
Fomos observados meio de rabo de olho,
e não fomos chamados a nos sentar,
e não fomos convidados para bebericar a cerveja disponível,
e não fomos autorizados a tocar,
E o cachorro dela ainda me mordeu !!!
Uns outros baluartes nos fitavam sem entender muita coisa...
Até uma colega minha da faculdade, hoje renomada intérprete e compositora,
estava lá, ensaiando, dando canja, sei lá...
Que bom esse negócio de amizade !!!
Que tem amigos, afinal, segue sempre adiante..."

Remoinho

Letra e Música Mario Vivas

Criança pode, a gente / Por que não pode também
Êta! Coisa mais bonita que você, será que tem?
Um brinquedo morde, / Uma canção marchando vem
Sobre reinos onde nobres / Perdem conta dos vinténs
Imagina quantas voltas / A imaginação não dá
P'ra fazer de algodão doce / Teu vestido de luar

Não olhe agora, amor, que amanheceu
Tempo, estrada, folha de papel, é o que restou
Das nossas confissões caladas entre os remoinhos
De pequenas músicas
Sabe, eu morro de vontade, às vezes é tão forte...
Ao menos minha sorte, invento de você.

Ciranda roda, mente / Quem não sabe o que dizer
Pode haver tal formosura nalgo além do que você?
A pergunta tenta / A criançada a responder
A beleza quer o nome / Que Maria oferecer
De meninas me perguntam, meus bonecos de faquir
Qual das minhas ilusões / Você não fez por seduzir?


"Esta cantiga nasceu durante uma viagem São Paulo-Rio,
em plena via Dutra... veio com uma naturalidade incrível...
Mais tarde, refinei um pouco os versos, pois a harmonia
já estava pronta... A primeira vez que toquei foi para
meus parceiros de Paluamar, no recanto bonançoso da Pajuçara..."

Cantiga de roda

Letra e Música Mario Vivas

Surgem os meninos na beirada desse cais
Torcem p’ros barquinhos que avançam pelo mar
Querem também ir mas a mamãe diz que há um tempo
Certo para tudo e é tão feliz esse momento

Então brincar de roda, se a Luísa não quiser
Invento com carinho algum joguinho e se eu puder
Eu encho de brinquedos que só eu imaginasse
E guardo seus segredos feito irmão mais velho faz

Ouviu, ‘seu’ Lucas, veja que responsabilidade !
Na escola te ensinaram, matemática é uma arte
Somando Lu + Lu + Lucas chego a amor profundo
E espalho essa nossa tabuada pelo mundo

Avisa p’ra mamãe que já é hora de deitar
Crianças dormem cedo p’ro adulto trabalhar
E na manhã seguinte chova ou faça sol intenso
Eu deixo o guarda-chuva em casa para não perdê-lo

Amor, toda cantiga gira e volta p’ro lugar
Porque o mundo inteiro cabe nesse polegar
E isso é p’ra quem sonha e eu sonho desde o dia
Em que juntinhos colorimos asas à alegria...


"Minha primeira canção aos 'meus' moleques queridos,
Lucas e Luísa, já com muito amor, que só fez crescer..."